Quantas vezes ouviu que os cães são felizes porque vivem o presente? Muitas, verdade? Isto significa que não têm noção da passagem do tempo? Descubra neste artigo o que pensamos saber sobre este assunto.
O conceito de tempo
A medição do tempo foi inventada pelos humanos. Segundos, horas, semanas ou anos, são períodos que definimos para nos entendermos quanto à passagem do tempo. Certo?
Como se explica então que, não sabendo fazer a leitura de um relógio, os nossos cães saibam quando chegou a hora do jantar? Ou quando estamos nós para chegar de um longo dia no trabalho?
Antes de mais, é importante explicar que a perceção da passagem do tempo está ligada à memória. Isto justifica a distorção que ocorre em pessoas com amnésia ou Alzheimer, por exemplo. Nos nossos cães, falamos muito de memória ligada aos sentidos, naturalmente.
A noção de tempo para os cães
O cão perceciona a passagem do tempo com base no seu ritmo circadiano. Falamos das flutuações diárias hormonais, de temperatura corporal e atividade cerebral. Em vez de saberem de quanto em quanto tempo têm comida ou quando chegará o tutor, reagem ao estado biológico em determinada altura do dia.
Outra teoria proclama que é o nível de cheiros que oferece essa noção de tempo aos nossos cães. Cheiros fortes significam um evento recente, em oposição a um passado, cujo cheiro já esta disperso. Saber qual quantidade de odor do tutor à hora a que costuma chegar do trabalho, por exemplo.
Neste sentido, conseguem saber o futuro: antever outro cão, por exemplo, através do cheiro que lhes surge antes sequer de conseguirem um contacto visual. Para outras situações, contam com estímulos exteriores para determinar o que está prestes a acontecer, como é o caso de fenómenos naturais.
E quanto à questão dos 7 anos?
A ideia de que 1 ano humano corresponde a 7 caninos tem origem na sua esperança média de vida. Na realidade, neste sentido, depende de outros fatores, nomeadamente do porte do cão. Mas não significa que o tempo passe mais depressa para eles. Ou melhor: não sabemos, pois é relativa para todos nós.
O meu cão tem noção do tempo que fica sozinho durante o dia?
Para responder a esta questão, foi feita uma experiência com cães sem historial de ansiedade de separação. Quanto mais tempo o tutor demorava a voltar para casa, mais intensa era a sua resposta quando o reencontro acontecia. No entanto, durante o tempo em que estavam sozinhos, não foi detetado qualquer sinal de stress.
Então sempre é verdade que vivem no presente?
Esta é uma questão controversa. Por um lado, é a memória e a antecipação de acontecimentos futuros – como sabermos que amanhã o sol vai nascer – que nos garante um sentido de continuidade, história pessoal e autoconsciência.
É verdade que podemos treinar os cães, mas tal como acontece com as crianças de 3 e 4 anos, o saber reagir a certos ‘comandos’ não significa que se lembrem de quando foram ensinados. Por isso, arriscaria dizer que sim, os nossos cães vivem essencialmente no tempo presente, recorrendo ao passado ou ‘adivinhando’ o futuro de forma pontual.
Cátia Frade
Médica Veterinária de Animais de Companhia