Apesar do ar de mauzão, é uma raça extremamente dócil, calma e afetuosa.
Origem
A história indica que o Buldogue Inglês teve a sua origem em Inglaterra, ainda antes do século XIII. A raça foi selecionada para um desporto de lutas com touros (Bullbaiting), no qual o touro era enfurecido e atacado por vários cães, enquanto os espectadores assistiam e apostavam no resultado. Contudo, o estalão da raça na altura nada teria a ver com o atual, tratando-se de cães grandes, com mandíbulas enormes e, aparentemente, impermeáveis à dor. O nome buldogue vem exatamente de dessa prática. Em Inglês, bull significa touro e dog traduz-se como cão, daí o Bull dog.
O ponto de viragem na raça acontece quando, em 1835, são proibidos os desportos de sangue com animais em Inglaterra. Passaram então à clandestinidade, com as lutas de cães em caves. Esta atividade ilegal exigia cães com outras características, mais rápidos e animados do que o Buldogue calmeirão do início do século XIX.
Com a obsolescência do Bullbaiting e a clandestinidade das lutas, a raça enfrentou a extinção, com a resposta dos admiradores deste animal a iniciarem o longo processo de transformação da raça, desde um lutador, a um cão companheiro, meigo e calmo. Tornou-se assim, por diversos critérios de seleção, num cão mais atraente e doce.
Hoje, é um conhecido símbolo de Inglaterra. Utilizado nos EUA como mascote de diversas entidades, como as equipas de desporto da Universidade de Yale, ou da Universidade da Georgia, bem como do Corpo de Fuzileiros dos EUA, é também símbolo e mascote de diversas entidades por todo o mundo.
Bulldog ou Buldogue?
As diversas pesquisas mostram alguma confusão na nomenclatura da raça. Em Inglês escreve-se Bulldog, enquanto em Português se escreve Buldogue. Contudo, a nomenclatura é muitas vezes utilizada em simultâneo num mesmo texto. Uma outra distinção a fazer é relativa ao nome da raça. Apesar de o nome correto ser Buldogue Inglês, distinguindo-o dos restantes Buldogues, é vulgarmente reconhecido apenas como Buldogue.
O Buldogue atual
O Buldogue é uma raça reconhecida pela FCI (federação cinológica internacional). Pertence ao grupo 2 (Pinshers e Schnauzer – Molossóides, Boieiro suíço e Cães de gado) e, dentro deste, à secção 2.1- Raças Molossoides, Tipo Mastif;
Porte: Médio
Peso: machos 24-25kg e fêmeas 22-23 kg
Altura ao garrote: 31-40 cm
Cores: As cores variam entre branco, preto, fulvo, castanho claro e escuro (descrito como vermelho), podendo ser com coloração homogénea ou com a mistura de cores vermelha/castanha clara e branca, tigrado vermelho, tigrado vermelho e branco, tigrado fulvo e vermelho, com manchas vermelhas/fulvo sobre fundo branco. As variantes com cor preta também existem, embora tenham menos distinção nos diversos clubes de canicultura.
Aspeto geral: Em termos gerais, o Buldogue não pode ser confundido com qualquer outra raça. A cabeça é grande, com focinho curto, pele flácida, a testa franzida e o nariz cravado. A pele em torno da boca é mais longa, descendo abaixo da mandíbula. As orelhas são pequenas, caindo ligeiramente ao lado da cabeça. O pelo é curto, suave e brilhante. O corpo é musculado e as pernas são curtas, tendo o peito largo.
Esperança de vida: 8-10 anos
Temperamento/ Comportamento
Apesar do aspeto intimidador, são dos cães mais gentis, calmos e afetuosos. São conhecidos por estarem sempre bastante alerta e serem corajosos. Um dos grandes atributos que o tornam popular é a afetuosidade e calma com as crianças. São cães descritos como teimosos e determinados, que necessitam algum treino e persistência. Não gostam da solidão, devendo-se evitar deixá-los sós por longos períodos.
Atividade/Exercício
Embora felizes a relaxar junto dos donos, apreciam uma caminhada ocasional. O exercício moderado ajuda o Buldogue a ficar em forma. Contudo, devem-se evitar grandes exercícios em dias de maior calor.
Devem ser evitados pisos irregulares ou com escadas, devido à alta probabilidade de desenvolverem problemas articulares.
Os Buldogues gostam também de água, embora, pela sua morfologia, sejam péssimos nadadores. Deve-se evitar o acesso a águas sem pé.
Patologias mais comuns
O facto de esta raça ter sido modificada ao longo das últimas décadas, por forma a terem o comprimento do corpo e da cauda encurtados, acarretou vários problemas a nível de saúde, particularmente a nível respiratório, locomotor, problemas dermatológicos e cardíacos.
Algo típico dos Buldogues é o som da sua respiração, com o característico ronco, devido à dificuldade do ar ao passar nas vias respiratórias. Este som é mais pronunciado quando dormem e respiram pelo nariz. É comum a necessidade de recorrer ao Veterinário para uma cirurgia corretiva das vias respiratórias, devido ao Síndrome do Braquicéfalo.
São também predispostos a sofrerem de patologias da coluna, nomeadamente de displasia da anca, devido ao elevado peso que carregam sobre os membros, hérnias discais e hemivértebras, devido à má formação das suas vértebras.
As alergias, a dermatite das pregas, os quistos interdigitais, e o vulgarmente designado “olho de cereja”, são patologias também frequentes, exigindo por isso cuidados acrescidos por parte dos donos.
Estão ainda descritas diversas patologias hereditárias e congénitas: hiperuricosuria, acne, foliculite, dermatites, distiquíase, entropion, ectropion, problemas dentários, fenda do palato, lábio leporino, hipoplasia da traqueia, fistula arteriovenosa, síndrome de Von Wilebrand, hidrocefalia, tumor das glândulas perianais, hipotiroidismo.
Importa ainda salientar que mais de 80% dos Buldogues nascem por cesariana, devido às suas grandes cabeças, impossibilitando-os de passar no canal de parto.
Apesar da curta esperança de vida, são reportados casos de cães que superam a média, quando devidamente cuidados e alimentados.
Alimentação
Este é um fator determinante para o aumento da longevidade do Buldogue. Qualquer dieta deve ser apropriada à idade do cão. Embora esta adaptação da dieta à idade seja transversal para todas as raças, é particularmente importante no caso do Buldogue. O Buldogue, pela sua reduzida atividade, tende a acumular mais peso, devendo a ração ser de elevada qualidade e personalizada.
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Os Buldogues têm também grande tendência a problemas de pele, podendo a causa ser alimentar, devendo a dieta ser adequada a tais situações.
Deve sempre consultar o seu Médico Veterinário sobre a melhor opção alimentar, caso tenha um Buldogue.
Cuidados a ter
São necessários cuidados diários para manter o cão saudável. Dado terem bastante pele na região do focinho e região genital, deve ser cuidadosamente limpa a pele entre as pregas de pele nessas localizações. Devem também ser limpos mais frequentemente do que nas restantes raças, os ouvidos e os olhos.
Dada a sua reduzida atividade, devem ser ainda estimulados a um pouco de exercício, não exagerando, dada a sua condição respiratória e cardíaca mais frágil. Dados estes problemas, os donos devem ainda atender às condições de temperatura e humidade da casa, uma vez que reagem muito mal a temperaturas e humidade elevadas.
O futuro da raça
Ainda que diversos Veterinários defendam que a raça deva evoluir para padrões suscetíveis de menores patologias, os vários clubes da raça espalhados pelo mundo, e as associações de canicultura defendem a continuidade da raça, tal como a conhecemos. Um dos ecos de alerta que se começam a fazer sentir vem da Holanda, que avançará com a proibição de criação desta raça, entre outras.
Longe do cão de luta para que foi criado e, apesar de todas as características menos positivas da raça, enchem rapidamente o nosso coração, pelo seu doce temperamento.
Mónica Carvalho
Médica Veterinária
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